Manter a unidade do Brics, com membros diversos e num contexto mundial complexo, foi um resultado importante da Carta da Cúpula dos Líderes, divulgada neste domingo (6), no Rio de Janeiro.
Essa avaliação é da professora de História Contemporânea e Política Internacional da UFRJ, Beatriz Bissio, que considerou a declaração positiva.
“É um desafio dos Brics manterem uma coerência e uma unidade que é base de qualquer possibilidade de crescimento e de consolidação futura. E há, digamos assim, um pacto de tudo que for aprovado ser por consenso”.
O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ricardo Leães, diz que é de se esperar dificuldades para fechar um texto que agrade a todos.
“Cada um tem os seus interesses. Muitas vezes, inclusive, eles têm conflito entre eles mesmos, como é o caso do conflito que existe entre a China e a Índia, e isso dificulta que haja um documento definitivo de todas as partes. Então, não surpreende que haja, realmente, algumas limitações nesse sentido e que alguns pontos sejam até omitidos”.
Entre os pontos de maior discussão estão os conflitos envolvendo membros.
O documento critica os ataques contra o Irã, mas não cita Israel. Isso pode ter relação até com a forma como os países se referem ao estado judeu, como explica o professor.
“Enquanto que o Irá não reconhece Israel e chama Israel de ‘o regime sionista’, outros países têm relação diferente com esse país. A Índia, por exemplo, é um país que tem relações muito sólidas com o Estado de Israel. Então, provavelmente, o fato de não terem mencionado, tem a ver com o Irã não gostaria que Israel fosse mencionado como Estado de Israel e a Índia não gostaria que Israel fosse mencionado como um regime sionista”.
No caso da Ucrânia, o documento pede diálogo e diplomacia; mas não menciona a Rússia, que invadiu o país vizinho.
A professora Beatriz Bissio diz que o documento toca indiretamente em causas do conflito ao afirmar que a segurança internacional é indivisível. Ou seja, quando um membro do conjunto de nações está inseguro, a segurança geral está ameaçada.
Ela lembra que, quando a União Soviética se dissolveu, havia um acordo para que o lado ocidental também reduzisse sua influência, o que não aconteceu.
“A OTAN não só não se desmantela, como ela começa a incorporar novos estados, novos países. Entendo que aqui está indiretamente apontando o documento as causas que têm que ser levadas em consideração para poder resolver de uma forma definitiva, não parcial, o tema da Ucrânia”.
A solução para esses conflitos, entre outros mencionados, deve passar pela diplomacia, defendem os líderes do Brics na Carta.
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