Com a meta ambiciosa de restaurar 1 milhão de hectares de florestas nos dois biomas mais emblemáticos do país — Amazônia e Mata Atlântica —, uma startup Re.verde pretende transformar o desafio da recuperação ambiental em uma oportunidade econômica e climática para o Brasil.
A iniciativa reúne cientistas experientes e investidores de pesocom o objetivo de capturar até 15 milhões de toneladas de carbono por ano e impulsionar uma nova economia florestal.
Entre os fundadores está o professor Ricardo Ribeiro Rodriguesda Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP (Esalq-USP)referência nacional em restauração ecológica. Ele e sua equipe já acumularam mais de 60 mil hectares em recuperação ao longo de 26 anos de trabalho no Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (Lerf).
“O país precisa recuperar 12 milhões de hectares com floresta. Por meio do nosso programa, atingimos apenas 0,5% dessa meta. A Re.green busca ampliar essa escala”, destacou Rodrigues.
Investimentos e origem da iniciativa
A Re.green nasceu há três anos, impulsionada por fundos de investimento como Lanx Capital, PN (escritório familiar dos Moreira Salles), Gávea Investimentos (do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga) e Dínamo.
O professor Ricardo Rodrigues aderiu ao projeto em parceria com outros pesquisadores, entre eles o professor Pedro Brancaliontambém da USP. Parte da equipe do Lerf foi incorporada à startup, levando consigo décadas de conhecimento científico acumulado.
“Do arco do desmatamento ao arco da restauração”
Já Amazôniao foco da startup está no chamado Arco do Desmatamentoregião que concentra a maior parte da perda de floresta no país e abrange o oeste do Maranhãoó sul do Pará, Mato Grosso, Rondônia e Acre.
“Pretendemos transformar o arco do desmatamento em arco da restauração”, afirmou Rodrigues.
Atualmente, a empresa já possui 16,5 mil hectares em restauração e 16,9 mil hectares em conservação. Em outubro de 2023iniciou o maior projeto de restauração contínua da América do Sulem uma propriedade de 8.427 hectares entre os estados do Maranhão e do Pará.
Créditos de carbono e retorno financeiro
O modelo de negócio da Re.green se apoia na venda de créditos de carbono gerados pelas áreas restauradas.
“Fazemos a conta de quanto cada restauração florestal acumula de carbono e vendemos essa adicionalidade”, afirma Rodrigues.
A metodologia é baseada em pesquisas apoiadas pela Fapespque analisaram 800 parcelas de floresta e 70 mil árvores de 1.200 espécies nativas. Os estudos mostraram que florestas degradadas restauradas podem acumular quase tanto carbono quanto as áreas conservadasreforçando o potencial econômico da restauração.
Uso de espécies nativas e manejo sustentável
Para executar os projetos, a startup compra ou arrenda fazendas que originalmente eram áreas de floresta convertidas em pastagens. Os proprietários são remunerados pela concessão das áreas restauráveis.
Um modelo desenvolvido no laboratório de Rodrigues orienta a escolha de até 60 tipos de estratégias de restauraçãoconsiderando fatores como regeneração natural, armazenamento de carbono, produção madeireira sustentável e prestação de serviços ecossistêmicos.
A restauração é feita com espécies nativas brasileirascomo jequitibá-rosa, jacarandá-da-bahia, ipê-roxo-de-bola e pau-brasil. As mudas são produzidas no viveiro Biofloraem Piracicaba, criado em 1998 pela equipe que hoje integra a Re.green. O viveiro produz 2,5 milhões de mudas por ano e mantém dados de estoque de carbono por espécie e idadecomprovando o potencial de silvicultura ecológica com retorno financeiro.
Resultados iniciais
Os primeiros levantamentos indicam que os modelos da Re.green estão superando as expectativas de captura de carbonoacumulando 14% a mais do que o estimado inicialmente.
“A restauração florestal com espécies nativas é uma forma eficiente de combater as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, gerar valor econômico para o país”, avaliou Rodrigues.
*Sob supervisão de Luis Roberto Toledo e com informações da Agência Fapesp













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