terça-feira , 11 novembro 2025
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Produção de leite pode reduzir em até 70% o uso de água com boas práticas e manejo eficiente

Produção de leite pode reduzir em até 70% o uso de água com boas práticas e manejo eficiente

Um estudo conjunto entre pesquisadores brasileiros e alemães mostrou que o uso eficiente da água na produção leiteira depende diretamente da produtividade agrícola, do manejo dos dejetos e da gestão das rotinas nas fazendas. A pesquisa também avaliou como as mudanças climáticas afetam a pegada hídrica do leite, conceito que mede toda a água — direta e indireta — utilizada no processo produtivo.

O trabalho científico, intitulado Como as práticas de produção e as mudanças climáticas impactam a pegada hídrica das fazendas leiteiras?foi publicado na revista internacional Ciência do Meio Ambiente Total.

67 fazendas e 192 combinações de práticas

Os pesquisadores analisaram 67 propriedades eles Lajeado Tacongavanão Rio Grande do Sulabrangendo 81,7% das fazendas da bacia hidrográfica local. Dessas, 57 trabalham com gado a pasto, sete são semi-confinadas e três totalmente confinadas.

Foram testadas 192 combinações entre boas práticas e cenários climáticos, avaliando a eficiência hídrica em cada tipo de sistema. A média obtida foi de 704 litros de água por quilo de leite corrigido para proteína e gordura, com variações entre 299 e 1.058 litrosdependendo da eficiência produtiva e do tipo de manejo.

Água verde, azul e cinza: os diferentes usos

UM água verde representa a umidade natural usada na produção dos alimentos que compõem a dieta dos bovinos — como milho e forragens. A água azul vem de fontes superficiais e subterrâneas, usada na dessedentação dos animais, limpeza e resfriamento. Já a água cinza está relacionada ao volume necessário para diluir poluentes, como o nitrato, provenientes dos efluentes utilizados como fertilizantes.

De acordo com Julio Palharespesquisador da Embrapa Pecuária Sudesteações como melhorar a produtividade do milho e da soja, reduzir o uso de água na ordenha, tratar os efluentes e aumentar a produção de leite por vaca são as mais eficazes para diminuir a pegada hídrica.

“O aumento da eficiência produtiva e o uso racional da água são fundamentais. Práticas simples, como o tratamento do efluente da ordenha e o manejo correto da limpeza, trazem resultados ambientais expressivos”, destaca Palhares.

Impactos do clima e desafios futuros

O estudo mostra que o aquecimento global eleva a pegada hídrica verde e azuldevido ao maior consumo de água pelos animais e para redução na produtividade do milho. Em cenários simulados com aumento de até 2,5 °C na temperatura média, a pegada hídrica azul subiu entre 1% e 2%.

Mesmo assim, o desempenho produtivo ainda é o fator mais determinante. Nos sistemas confinados, a média foi de 562 a 950 litros de água por quilo de leiteresultado da maior eficiência alimentar e produtiva das vacas.

Foto: Gisele Rosso/Embrapa

Rumo à produção sustentável

As práticas que mais contribuíram para reduzir o impacto incluem:

  • aumento de 25% nos rendimentos do milho e da soja;
  • redução do uso de água na ordenha;
  • incremento de 1 litro de leite por vaca ao dia;
  • tratamento adequado dos dejetos.

UM água verde respondeu por quase 99% da pegada total do leite, o que mostra a importância da eficiência agrícola. Já a água cinza teve peso menor, representando menos de 0,1% da pegada total.

Segundo Palhares, aumentar a produtividade agrícola é uma ação mitigadora de curto prazomas o avanço do aquecimento global pode limitar os ganhos em regiões mais quentes. “É urgente investir em sistemas resilientes e integrados, capazes de garantir segurança hídrica e alimentar”, reforça.

Contribuição aos Objetivos da ONU

As conclusões do estudo estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e ELEespecialmente os que tratam de produção responsável (ODS 12), combate às mudanças climáticas (ODS 13) e agricultura resiliente (ODS 2).

Ao combinar ciência e prática, a pesquisa reforça que o uso eficiente da água na produção de leite é não apenas possível, mas essencial para a sustentabilidade do agro brasileiro em um cenário de mudanças climáticas crescentes.

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