quinta-feira , 18 dezembro 2025
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Endividamento e juros altos desafiarão mercado de máquinas agrícolas em 2026

Plantadeira, máquinas agrícolas

Foto: Freepik

Apesar da safra robusta e do PIB positivo, o mercado de máquinas agrícolas encerra 2025 em ritmo abaixo do esperado. A avaliação é do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet, que aponta estabilidade nas vendas ao produtor, avanço concentrado em máquinas de menor potência e um cenário que segue pressionado por crédito caro e menor rentabilidade no campo.

“Foi um ano difícil. Embora o ano termine com um PIB positivo e uma safra boa, a venda de máquinas agrícolas não foi aquilo que nós esperávamos”, afirmou Calvet, ao apresentar os dados do setor.

Segundo a Anfavea, as vendas no varejo de tratores de rodas e colheitadeiras recuaram 0,7% no acumulado do ano. Em 2024, o setor havia vendido pouco mais de 43 mil unidades. Em 2025, o volume ficou praticamente no mesmo patamar. “Foi um ano de queda pequena, mas de estabilidade na venda do varejo”, disse.

No atacado, houve crescimento de 18%, com cerca de 47 mil unidades, mas o executivo pondera que o avanço ocorreu sobre uma base muito baixa de comparação. “Esse desempenho se dá sobre uma base muito fraca de 2024 e é fortemente concentrado em máquinas de baixa potência, com menor valor agregado”, explicou.

De acordo com Calvet, esse perfil de venda levanta questionamentos sobre produtividade no médio prazo. “Essas máquinas de menor potência ditaram o crescimento. No limite, a gente ainda estuda se isso mantém o nível de produtividade da agricultura”, afirmou.

Além disso, a Anfavea aponta aumento dos estoques na rede de concessionárias ao longo do ano. “Houve um forte incremento de estoque na rede, inclusive para evitar desligamentos”, acrescentou o presidente da associação.

Endividamento sobe e crédito encolhe

Ao comentar o cenário financeiro do setor, Calvet foi direto ao separar o desempenho do agro do comportamento do mercado de máquinas. “Tivemos uma safra recorde este ano e uma safra que deve ser boa no próximo. Mas isso não necessariamente vai se traduzir em venda de máquinas”, disse.

Segundo ele, serviços e produtos ligados ao agro não acompanham o crescimento da produção, principalmente por causa da alta da inadimplência e da desaceleração do crédito. “A inadimplência está subindo. Quando isso acontece, a tendência é enxugar a concessão de crédito”, afirmou.

Dados agregados de veículos, que incluem máquinas agrícolas, mostram inadimplência de 5,4% para pessoa física, o maior nível desde novembro de 2023. Para pessoa jurídica, índice mais relevante para o financiamento de máquinas, o percentual chegou a 3,7% em outubro de 2024, o maior patamar desde junho de 2017.

“Não é uma crise no agro, mas há pressão de preços internacionais sobre os principais produtos. A rentabilidade fica menor”, explicou Calvet. “Quando a rentabilidade diminui, o agricultor decide manter a máquina. A renovação do parque passa a ser uma segunda opção de investimento.”

Nesse contexto, o presidente da Anfavea chamou atenção para o comportamento do Moderfrota. “É importante parar para pensar por que, nessa época do ano, ainda tem recurso disponível no Moderfrota”, afirmou. Para ele, a permanência de saldo no principal programa de financiamento de máquinas indica menor demanda por investimento, mesmo com linhas oficialmente abertas.

Nos últimos 12 meses, a concessão de crédito para pessoas jurídicas recuou 2%. “Essas curvas mudam por razões óbvias: uma sobe, a outra cai”, resumiu.

Olhar para 2026

Para 2026, a avaliação da Anfavea é de continuidade dos desafios. “O ano promete um PIB positivo, mas menor. A safra provavelmente não será tão boa quanto a deste ano e deve haver mais pressão sobre os preços das commodities”, disse Calvet.

Segundo ele, a taxa de juros deve seguir elevada pelo menos até o primeiro trimestre, com expectativa de cortes ainda tímidos. “Isso pode retardar uma recuperação mais pujante do setor”, avaliou.

Calvet alertou ainda para os efeitos de médio prazo da postergação de investimentos. “Quando esse processo perdura, pode haver estagnação ou queda da produtividade, com máquinas mais antigas, menor eficiência e aumento do custo operacional ao longo do tempo”, afirmou.

No cenário estrutural, o presidente da Anfavea defendeu o fortalecimento das exportações como forma de reduzir a dependência do mercado interno. “As exportações ainda são pequenas frente ao potencial. Precisamos de uma estratégia mais incisiva de abertura de mercados para equalizar momentos de maior oscilação do mercado doméstico”, concluiu.

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